GIFME
Grupo de Interesse em Fisioterapia Músculo-Esquelética
FISIOTERAPIA MÚSCULO-ESQUELÉTICA:
O FUTURO NO PRESENTE
#6
EDUCAÇÃO AO UTENTE EM FISIOTERAPIA MÚSCULO-ESQUELÉTICA: TEMPO PARA UMA EDUCAÇÃO ESTRUTURADA, PLANEADA E BASEADA NA NEUROCIÊNCIA DA DOR
Publicado a 09/12/2021
A educação ao utente é algo que, muito provavelmente, todos consideramos de extrema relevância ou até um pilar da Fisioterapia. Contudo, o que a define ou como se realiza, talvez não seja consensual, apesar de ser uma estratégia de intervenção recomendada internacionalmente, em particular, na Fisioterapia Músculo-Esquelética. Assim, importa clarificar que a educação ao utente pode ser definida como uma experiência de aprendizagem planeada que recorre a uma combinação de métodos de ensino, aconselhamento e técnicas de modificação do comportamento e que pretende influenciar o conhecimento e o comportamento de saúde do utente [1].
Num olhar mais próximo da rotina diária do Fisioterapeuta, a educação parece estar implícita em tudo o que se faz, mas nem sempre se utiliza de forma explícita e estruturada, alocando-lhe um período de tempo específico e dedicado, tal como se reserva para o exercício ou para a terapia manual. Contudo, há muito que se argumenta da necessidade de, tal como se define um programa de exercícios, definir um programa educativo para cada utente [2]. A educação deve ser planeada e, para tal, é necessário, entre outras coisas, avaliar as necessidades educativas do utente, identificar e definir os conceitos a transmitir ao utente, definir objetivos de aprendizagem, estratégias de ensino-aprendizagem e recursos a utilizar e avaliar resultados [3].
A educação pode abranger assuntos diversos, como a doença, a anatomia e fisiologia, os sintomas, o tratamento, a atividade física e o exercício ou o autocuidado. Contudo, a informação a transmitir ao utente tem, necessariamente, que estar alinhada com o que a evidência suporta como sendo relevante e tendo um impacto positivo no utente. Um estudo recente verificou que o que os utentes mais parecem valorizar é uma explicação para a sua dor [4] e a evidência suporta que esta explicação deve ter por base a neurociência da dor. Mais, existindo um conjunto importante de condições músculo-esqueléticas para as quais não é possível identificar a causa, uma explicação baseada no diagnóstico clínico ou na anatomia pode ser contraproducente e reforçar comportamentos, sentimentos e crenças desajustados e que não facilitam a recuperação do utente. Assim, a educação em neurociência da dor assume um papel importante, realçando que nem toda a dor é um sinal de perigo e que não existe uma relação direta entre o estado dos tecidos e a dor sentida e pode ser o ponto de partida para a educação sobre o exercício, a atividade física, as preocupações do utente e os seus comportamentos e crenças desajustados. Apesar da evidência suportar o seu impacto positivo na diminuição da dor e incapacidade, em particular, quando aliada ao exercício [5], a sua utilização não é, ainda, tão comum quanto seria desejável. Entende-se que possam existir barreiras à implementação de uma educação em neurociência da dor estruturada, planeada e centrada no utente, mas é tempo de um esforço conjunto para as identificarmos e superarmos.
Anabela G. Silva
Fisioterapeuta
Centro de Investigação em Serviços e Tecnologias da Saúde
Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro
Grupo de Interesse em Fisioterapia Músculo-Esquelética (GIFME-APFISIO)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
[1] Bartlett EE. At last, a definition. Patient Educ Couns 1985;7(4): 323–24
[2] Sluijs, EM. Patient Education in Physiotherapy: Towards a planned approach. Physiotherapy, 1991;77(7):503-508.
[3] Zieglera AM, Minkalis AL, Langdonb ER, Vining R. Learning the neurobiology of pain: A scoping review of pain education from an instructional design perspective. Patient Education and Counseling, 2021, in press.
[4] Smuck M, Barrette K, Martinez-Ith A, Sultana G, Zheng P.What does the Patient with Back Pain Want? A Comparison of Patient Preferences and Physician Assumptions. Spine J, 2021;S1529-9430(21)00906-2.
[5] Wood, L. & Hendrick, P. A. (2019) A systematic review and meta-analysis of pain neuroscience education for chronic low back pain: Short-and long-term outcomes of pain and disability, European Journal of Pain, 23(2):234–249.