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FISIOTERAPIA MÚSCULO-ESQUELÉTICA:
O FUTURO NO PRESENTE

#7
AVALIAÇÕES ECONÓMICAS EM FISIOTERAPIA MÚSCULO-ESQUELÉTICA: O FUTURO COMEÇA AGORA!

Publicado a 16/12/2021

As avaliações económicas têm sido amplamente aplicadas nas políticas de saúde, incluindo na avaliação de programas de prevenção, diagnóstico, de intervenção e organização de cuidados e reabilitação. Estas avaliações são cada vez mais utilizadas para a tomada de decisão e são um componente importante dos programas de avaliação da tecnologia em saúde internacional e do valor económico da Fisioterapia.

Todas as avaliações económicas avaliam os custos, mas as abordagens para medir e avaliar as consequências das intervenções em saúde podem ser diferentes:

  1. Análise de minimização de custos: escolha da opção menos custosa entre as intervenções alternativas que se supõe produzirem resultados equivalentes.

  2. Análise de consequência de custo: examina custos e consequências sem tentar isolar uma única consequência ou agregar consequências numa única medida.

  3. Análise de custo-efetividade: mede as consequências em unidades naturais, como anos de vida ganhos, dias de invalidez evitados ou casos detetados. 

  4. Análise de utilidade de custo: variante da análise de custo-efetividade em que as consequências são medidas em termos de medidas de saúde baseadas em preferências, como anos de vida ajustados pela qualidade ou anos de vida ajustados por incapacidade.

  5. Análise de custo-benefício: as consequências são avaliadas em unidades monetárias – custo líquido de uma intervenção em saúde para o benefício consequente dessa intervenção.

Uma avaliação económica pode ser chamada de “análise de custo-efetividade” ou “análise de custo-benefício”, mesmo que não siga estritamente as definições acima. Vários formulários também podem existir numa única avaliação.

EXEMPLO DE AVALIAÇÃO ECONÓMICA EM FISIOTERAPIA MÚSCULO-ESQUELÉTICA

Para os objetivos do presente artigo apresentaremos como exemplo estudos de avaliação económica de intervenções em Fisioterapia na Osteoartrose da Anca e Joelho (combinadas).

Um estudo Neozelandês investigou a custo-efetividade da adição de um programa constituído por modalidades de exercício, terapia manual ou combinação de ambos, inicialmente durante um ano, em comparação com os cuidados usualmente providenciados a estes utentes isoladamente, do ponto de vista do sistema nacional de saúde e da sociedade. O primeiro combina os custos de entrega da intervenção e custos de saúde (públicos e privados), enquanto o último inclui também custos de produtividade e custos pessoais para o utente, família e amigos. A amostra inicial não excluiu utentes que realizaram outros tipos de intervenção (por exemplo: cirúrgico).

A adição dos planos de intervenção revelou-se custo-efetiva em comparação com cuidados usuais isoladamente, tanto do ponto de vista do sistema de saúde (no caso de programas de intervenção de exercício individualizado e supervisionado) como da sociedade (programas de intervenção em Fisioterapia com modalidades de terapia manual ou exercício), ao fim de um ano. Estes planos associam-se a estimativas de rácio de incremento de custo-utilidade (custo total da intervenção por ano de vida ajustado pela qualidade (QALY) ganho) que variaram entre “muito custo-efetivo” e “custo-efetivo” e estes resultados reproduziram-se numa análise de sub-grupos onde se excluiu a parte da amostra que tinha realizado tratamento cirúrgico. A combinação de terapia manual e exercício revelou-se menos efetiva ou, pelo menos, não mais efetiva e não tão custo-efetiva como a aplicação isolada de terapia manual ou exercício em paralelo com cuidados usuais.

Ao fim de dois anos, os planos de intervenção de exercício e os planos de intervenção com modalidades de terapia manual mantiveram a superioridade em relação aos cuidados usuais isoladamente no que respeita à minimização de custos. Os planos de intervenção de exercício apresentaram os benefícios líquidos incrementais mais elevados, estatisticamente significativos em todos os níveis de disponibilidade de pagamento tanto da parte do sistema nacional de saúde como da sociedade.

Melhorias clínicas significativas (utilizando como medida de outcome o resultado da WOMAC) em comparação com os cuidados usuais apenas foram constatadas no grupo de participantes que realizou intervenção pelo exercício.

A Australian Physiotherapy Association utilizou os dados deste ensaio clínico como referência no documento “The Value of Physiotherapy”, publicado em Outubro de 2020. O seu objetivo foi construir um reporte sucinto que demonstrasse o benefício económico providenciado pela Fisioterapia, tanto a nível do utente individualmente, como de diferentes sistemas de saúde.

No contexto Australiano, estimou-se então que a intervenção da Fisioterapia na Osteoartrose do Joelho e da Anca representa um benefício líquido médio de $3,772 por episódio de cuidados (net benefit – benefício económico líquido providenciado por episódio de cuidados. É calculado como benefício em qualidade de vida menos o custo líquido do tratamento e por essa razão pode ser um valor positivo ou negativo).

 

REFLEXÃO

Para se afirmar continuamente como uma disciplina de saúde informada pela evidência, a Fisioterapia (Músculo-Esquelética) deverá produzir cada vez mais investigação sobre o custo-benefício das suas intervenções, como forma de otimizar as suas normas de orientação clínica e manuais de boas práticas.

Este facto assume-se de importância extrema num momento em que os cuidados providenciados a pessoas com condições músculo-esqueléticas se caracterizam globalmente pelo seu baixo valor – abordagens inefetivas, com riscos potenciais e que representam um custo significativamente avultado para a sociedade e para os sistemas de saúde.

A Fisioterapia Músculo-Esquelética não foge à regra – uma percentagem cada vez maior de Fisioterapeutas adopta intervenções de baixo valor ou de valor desconhecido, tendência que vem a piorar ao longo dos últimos 30 anos.

No contexto nacional a tendência ou se mantém ou se agrava, e a este problema acresce a inexistência de avaliações económicas da intervenção da Fisioterapia em condições músculo-esqueléticas.  

O resultado final é uma falha redonda numa apropriada alocação de recursos (naturalmente finitos) em intervenções realmente custo-benéficas, em serviço dos superiores interesses do utente e da sustentabilidade do Sistema Nacional de Saúde, de que todos dependemos.

Aproveitemos este momento de viragem na nossa profissão para uma reflexão conjunta direcionada para o futuro com esse sentido de responsabilidade social.

Futuro que passa em parte, sem sombra de dúvida, pela avaliação do custo-benefício de intervenções em Fisioterapia Músculo-Esquelética no contexto nacional, que nos permita apresentar-nos como uma solução realmente válida para os diferentes contextos de cuidados.

Hugo Couto

Fisioterapeuta no Hospital de Braga

Mestre em Gestão em Unidades de Saúde

João Santos Neto

Fisioterapeuta

Grupo de Interesse em Fisioterapia Músculo-Esquelética (GIFME-APFISIO)

Mestre em Condições Músculo-Esqueléticas

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 

Abbott JH, Robertson MC, Chapple C, Pinto D, Wright AA, Leon de la Barra S, Baxter GD, Theis JC, Campbell AJ; MOA Trial team. Manual therapy, exercise therapy, or both, in addition to usual care, for osteoarthritis of the hip or knee: a randomized controlled trial. 1: clinical effectiveness. Osteoarthritis Cartilage. 2013 Apr;21(4):525-34

Abbott JH, Wilson R, Pinto D, Chapple CM, Wright AA; MOA Trial team. Incremental clinical effectiveness and cost effectiveness of providing supervised physiotherapy in addition to usual medical care in patients with osteoarthritis of the hip or knee: 2-year results of the MOA randomised controlled trial. Osteoarthritis Cartilage. 2019 Mar;27(3):424-434

Drummond MF, Sculpher MJ, Torrance G, O’Brien J, Stoddart GL. Methods for the economic evaluation of health care programmes. 3rd ed. Oxford University Press, 2005

Pinto D, Robertson MC, Abbott JH, Hansen P, Campbell AJ; MOA Trial Team. Manual therapy, exercise therapy, or both, in addition to usual care, for osteoarthritis of the hip or knee. 2: economic evaluation alongside a randomized controlled trial. Osteoarthritis Cartilage. 2013 Oct;21(10):1504-13

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