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FISIOTERAPIA MÚSCULO-ESQUELÉTICA:
O FUTURO NO PRESENTE

#1
CONHECIMENTO VS COMPORTAMENTO:
DESAFIOS NA PROMOÇÃO DA SAÚDE MÚSCULO-ESQUELÉTICA

Publicado a 04/11/2021

A saúde músculo-esquelética é fundamental para manter a capacidade funcional das pessoas ao longo da vida. Considerando que as condições músculo-esqueléticas constituem a principal causa de anos vividos com incapacidade e que é expectável que o seu impacto continue a aumentar nas próximas décadas, tem sido destacada a importância dos utentes adquirirem competências de autogestão e modificarem comportamentos relacionados com os hábitos de vida, dado que estes revelam uma associação importante com a manutenção da incapacidade. Deste modo, torna-se imperativo que o fisioterapeuta desenvolva competências que direcionem a sua intervenção para a mudança de comportamentos da população. Sendo um profissional de saúde apto para atuar na prevenção, deteção precoce e/ou tratamento de condições músculo-esqueléticas, o fisioterapeuta deve ser capaz de delinear intervenções que promovam a redução de comportamentos contraproducentes, tais como a inatividade física, estimulando a adoção de hábitos de vida mais saudáveis.

Contudo, embora as guidelines clínicas da maioria das condições músculo-esqueléticas recomendem a educação e o exercício físico como intervenções de primeira linha, a evidência demonstra que mudanças comportamentais são difíceis de alcançar e sustentar. A educação terapêutica desempenha um papel crucial nesta relação, mas não é suficiente para despoletar alterações comportamentais desejáveis. Exemplificando, compreender as consequências inerentes ao sedentarismo é extremamente relevante para antecipar as repercussões deste comportamento na saúde músculo-esquelética. No entanto, o conhecimento destas consequências parece não ser suficiente para induzir a prática regular de exercício físico. Esta realidade levanta a necessidade de redefinirmos os objetivos finais da nossa prática, reconhecendo que o conhecimento será o outcome da educação, enquanto a mudança comportamental corresponde ao outcome desejável da intervenção no seu todo.

Nesta perspetiva, e face à complexidade do comportamento humano, as intervenções em Fisioterapia músculo-esquelética devem priorizar a inclusão de abordagens focadas na mudança de comportamentos, e não apenas na aquisição de conhecimento. Para além do indivíduo compreender porque é que a mudança deve ocorrer, a mesma só será alcançada se for relevante para si próprio, se for enquadrada nas suas rotinas, se a pessoa estiver motivada e se desenvolver as competências necessárias para a manter ao longo do tempo. Esta visão integrada da individualidade e do contexto de cada pessoa propicia o desenvolvimento de intervenções que se envolvam mais conscientemente nos objetivos, interesses e motivações de cada indivíduo. É, ainda, necessário ter em conta que as tomadas de decisão sobre a própria saúde são influenciadas por uma multiplicidade de fatores físicos, psicológicos, emocionais e sociais que variam de dia para dia e que afetam a capacidade de sustentar essas mudanças. A maioria destes fatores relacionam-se com as barreiras que encontramos diariamente na prática clínica, nomeadamente, a presença de sintomas, elevadas exigências familiares ou laborais, falta de tempo, falta de suporte social, desmotivação para a prática autónoma de exercício, entre outros.

Neste sentido, o fisioterapeuta deve ser capaz de identificar as barreiras individuais e contextuais para a mudança, reconhecendo aquelas que podem ser modificadas com a sua intervenção. Tanto do ponto de vista da prevenção como do tratamento, é também esperado que os fisioterapeutas consigam apoiar e acompanhar os processos de mudança comportamental, focando-se na implementação de estratégias efetivas que tenham por base as teorias comportamentais. É, assim, fundamental o desenvolvimento e a aquisição destas competências, que devem ser incluídas no corpo de saberes essenciais da Fisioterapia, favorecendo a implementação de intervenções mais efetivas e enquadradas nos desafios atuais da saúde músculo-esquelética.

 

Susana Tinoco Duarte

Fisioterapeuta

Grupo de Interesse em Fisioterapia Músculo-Esquelética (GIFME-APFISIO)

Comprehensive Health Research Center (CHRC), NOVA Escola Nacional de Saúde Pública, Universidade NOVA de Lisboa, Lisboa, Portugal.

Centro de Investigação em Saúde Pública (CISP), NOVA Escola Nacional de Saúde Pública Universidade NOVA de Lisboa, Lisboa, Portugal.

Daniela Costa

Fisioterapeuta

Grupo de Interesse em Fisioterapia Músculo-Esquelética (GIFME-APFISIO)

Comprehensive Health Research Center (CHRC), NOVA Escola Nacional de Saúde Pública, Universidade NOVA de Lisboa, Lisboa, Portugal.

Centro de Investigação em Saúde Pública (CISP), NOVA Escola Nacional de Saúde Pública Universidade NOVA de Lisboa, Lisboa, Portugal.

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