GIFME
Grupo de Interesse em Fisioterapia Músculo-Esquelética
FISIOTERAPIA MÚSCULO-ESQUELÉTICA:
O FUTURO NO PRESENTE
#10
O QUE APRENDEMOS COM A CIGARRA E COM A FORMIGA?
Publicado a 13/01/2022
Quando me foi lançado este desafio de partilhar uma breve reflexão em torno da temática da prestação de cuidados na área músculo-esquelética o meu primeiro pensamento foi, “mas o que é que eu posso acrescentar, não dispondo de qualquer proficiência no tema?”. Sim, já necessitei de cuidados da área; sim, conhecemos os “milagres” que acontecem; sim, quase todos nós antecipamos a inevitabilidade (eu preferiria dizer utilidade porque nos remete para uma perspetiva de antecipação e prevenção do problema) de, em algum momento das nossas vidas, sermos objeto de alguma forma de intervenção reabilitadora.
Fui procurar então o significado de medidas de reabilitação no contexto da Fisioterapia e, de acordo com a World Health Organization, percebi que falamos de práticas dirigidas às “funções e estruturas corporais, atividades e participação, fatores ambientais e pessoais”. Nesse momento pensei que, tal como o processo de reabilitação e a maximização da sua eficácia, a valorização da qualidade da interação – nas suas diversas vertentes e significâncias – pode estimular a identificação e, até, contribuir para a construção de um propósito de pertença que promova uma atitude de cooperação, de esforço conjunto, de perceção e aceitação – longe de preconceitos e crenças individuais – da magia da interdependência. Como li numa reflexão de um jovem amigo, no seu discurso de formatura, “há uma razão para nos referirmos à nossa espécie como Humanidade e não como indivíduos. Somos um coletivo nas forças, nas fraquezas e nas conquistas, mas apenas conseguiremos emancipar o que nos distingue através do trabalho conjunto”.
Trabalhar conjuntamente remonta às nossas origens mais longínquas e encontra-se na fundação de todas as formas de vida, tal como as entendemos. Mas quando observamos o impacto da cooperação humana, conscientes da necessidade de minimizar o individualismo, o imediatismo e esbater a competitividade frequentemente egoísta, com uma abrangência que transcende fronteiras, culturas, credos, percebemos que aí residem as grandes (r)evoluções. Cooperar permite a pessoas comuns obter resultados incomuns, seja no nosso mais básico quotidiano, seja nas nossas maiores conquistas.
Os últimos anos de vivência num isolamento forçado por um vírus que não discrimina – tal como muitas outras doenças que nos vão afetando – expuseram as limitações de sistemas sociais autocentrados, soberbos e pouco ou nada solidários, produtores de culturas de sucesso isentas da riqueza que vem com a cooperação e a solidariedade.
O que nos motiva à associação? Cada um responderá por si, seguramente. Contudo, o trabalho cooperativo, permite-nos estruturar uma cultura organizacional mais democrática, mais próxima do resultado “ganha/ganha”, potenciando o surgimento de soluções mais abrangentes e esbatendo as consequências dos conflitos. Parafraseando, uma vez mais o jovem de que vos falei “trabalhamos juntos para reconstruir o que foi destruído por conceitos egoístas de Homem e cimentar a noção de Humanidade. Cooperar nunca significou progredir com facilidade, mas sim um imperativo humano que nos impele a simplesmente progredir”.
Dra Ilda Ferraz
Socióloga